segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dicotomia Sentimental.



Vou lhes explanar um pensamento meu.
Eu diria que é uma Quase-Teoria.
Quem me conhece ja me ouviu falar dela em algum cantinho dessa minha vida.


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Para todos nós, a tristeza é o sentimento que reproduz melhor as questões da alma. E não é porque somos seres infelizes, mas porque estar feliz é um estado de demência dos nossos juízos - sim, somos seres felizes.
Mas a felicidade não é linear e julgo suas razões muito simples:

Quando estamos felizes não enxergamos a maldade nem a mediocridade, tudo é muito simples. Mas existe um determinado momento em que nos decepcionamos, por exemplo. A decepção é um baque enorme ao nosso coração e no exato momento da queda, você acorda do sonho furta cor e passa a enxerga os problemas a serem resolvidos. Tudo fica preto e branco.

Inquietação. Irritação. Problema. Reflexão. Solução. Quietação.

Triste pelas decepções da vida é que somos capazes de crescer. Logo não existe uma felicidade constante para o nosso próprio bem. Para não vivermos num estado vegetativo da mente. Mas estar alegre tem seu lado relevante.

Estar alegre significa que nossos limites foram superados: e percebemos a simplicidade das coisas novamente.

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Portanto, comemore.
Comemore essa Dicotomia Sentimental.
Comemore essa Felicidade Oscilante.

Lágrimas...


Senhor, se for Tua vontade que sintamos a dor da perda, que seja pelas tuas mãos.
Não nos permitindo desistirmos da própria vida (vivendo sem esforços e desacreditados da melhora) nos garantindo - não importa quando - o direito ao julgamento.
Perdoa- nos, Senhor!

Já nos basta uma vida sofrida; uma eternidade sofrendo seria demais.
E nós sofremos.

Perdoa-nos.
Amém!


Aos enfermos do corpo, da alma, da mente e do coração.


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Clarice Lispector

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Nesse vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavra que digo escondem outras - quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo."


(in Um sopro de vida)

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"Viver é um ato que não premeditei. Brotei das trevas. Eu só sou válida para mim mesma. Tenho que viver aos poucos, não dá para viver tudo de uma vez. Nos braços de alguém eu morro toda. Eu me transfiguro em energia que tem dentro dela o atômico nuclear. Sou o resultado de ter ouvido uma voz quente no passado e de ter descido do trem quase antes dele parar — a pressa é inimiga da perfeição e foi assim que corri para a cidade perdendo logo a estação e a nova partida do trem e seu momento privilegiado que desperta espanto tão dolorido que é o apito do trem, que é adeus."

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"Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".


Clarice Lispector